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Palavras evitadas pela Apple

Você já percebeu que, durante a última WWDC, a Apple dedicou 45 minutos ao novo headset Vision Pro, mas não mencionou a expressão “realidade virtual” nenhuma vez?

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De fato, existem palavras específicas que a Apple prefere não dizer ou evitar mencionar em suas apresentações e marketing. Vamos explorar essas palavras e entender por que a Apple adota essa abordagem. Existem duas principais razões para isso: controle e comparação.

Controle

A Apple valoriza o máximo de controle possível, inclusive em sua estratégia de marketing. Ao associar fortemente um novo produto a uma palavra já amplamente utilizada pelo público ou por outras empresas, corre-se o risco de que a percepção em torno dessa palavra possa mudar e afetar a reputação do produto. Um exemplo disso é a expressão “inteligência artificial” (IA), que nunca é mencionada nas apresentações da Apple. Em contraste, em conferências como a Google I/O, o Google enfatiza as funcionalidades baseadas em IA no Android e no Chrome. Enquanto o Google mergulha nesse tema, a Apple prefere falar sobre aprendizado de máquina (ML) e explicar como seus dispositivos utilizam modelos de transformador localmente para melhorar recursos como a correção automática do teclado do iOS 17. A Apple evita associar-se diretamente à IA, pois a palavra tem conotações controversas e debates sobre seu impacto negativo, como o suposto “roubo” de arte de verdadeiros artistas. Como a Apple valoriza sua imagem pública, evita se associar a uma palavra que não pode controlar, optando por não mencioná-la.

Comparação

Outra característica notável da Apple é evitar comparações ou referências a outras empresas ou produtos em suas apresentações. A empresa prefere posicionar-se como única, existindo em seu próprio ecossistema, enquanto as outras desaparecem. Embora façam comparações ocasionais, como mencionar que um novo laptop é X% mais rápido que o mais popular laptop PC, em geral, a Apple faz isso com menos frequência do que outras empresas, especialmente no espaço de smartphones. Em lançamentos de smartphones de outras marcas, é comum fazer comparações diretas de especificações e números. A Apple, por sua vez, prefere nomear suas próprias características e tecnologias, tornando-as únicas e mais difíceis de comparar com outras. Essa abordagem se estende não apenas aos produtos, mas também a conquistas técnicas e recursos. Ao dar nomes específicos, a Apple cria uma identidade própria, dificultando as comparações diretas. Além disso, a empresa muitas vezes evita mencionar especificações detalhadas em suas apresentações, deixando para os revisores de tecnologia descobri-las posteriormente. Essa estratégia de controle e distinção contribui para a imagem e o marketing inteligente da Apple.

Vision Pro

No caso do novo headset Vision Pro, a Apple opta por evitar o termo “realidade virtual”, pois tem ambições futuras para tornar o produto mais acessível, menor, avançado e integrado a óculos com todas as funcionalidades tecnológicas. A empresa não quer associar o Vision Pro diretamente à realidade virtual, para evitar comparações com outros produtos existentes, como o Oculus Quest 2. Em vez disso, a Apple o descreve como um visor, uma experiência imersiva e uma nova forma de experimentar. Ao controlar as palavras usadas para descrever o produto, a Apple mantém o controle da narrativa e direciona a conversa conforme seus objetivos. Essa estratégia faz parte do marketing inteligente da empresa e é fascinante observar como eles a aplicam consistentemente.

Por Alexandre Cordeiro

Editor e criador do blog TecnoUp, sou formado em Processamento de Dados e em Sistemas de Informação. Atuo profissionalmente na área de tecnologia desde 1999.

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